Wednesday, October 24, 2007

Uma noite de Outono

22h45m. Temperatura amena. Um luar em quarto crescente. O céu parcialmente nublado. O vento a soprar em altitude, conduzindo as nuvens a Sul, despindo e vestindo a lua de tons cinzentos. O cheiro da terra, da chuva que caiu. As folhas de Outono a estalar ao meu andar. Plátano. Folhas em tons castanhos, amarelos e vermelhos formando um manto e acolchoando o chão húmido e irregular que pisava. Os meus sapatos rasos pareciam pantufas a deslocarem-se em alcatifa. Cães que ladram, uns mais perto outros mais longe, como numa orquestra sinfónica. A locomotiva que passa no apeadeiro, ecoando no silêncio da noite. O carro que derrapa ao fazer aquela curva mais apertada onde num passado recente alguém já se despistara de mota. O chiar dos pneus no paralelo. No prédio em frente a luz projectada de dentro de meia dúzia de janelas indicia actividade. A esposa na cozinha ainda a lavar a louça do jantar, o filho adolescente no escritório a navegar na internet, a jovem solteira a vestir o pijama e a preparar a roupa para o dia seguinte, a avozinha a pôr a dentadura de molho na casa de banho, o marido a ler o jornal no sofá, a discussão acesa entre o casal de meia idade... Vidas diferentes, rituais semelhantes. Aos poucos as projecções vão desaparecendo e o prédio perde forma. O orvalho começa a cair baixando de repente a temperatura. Os cães param de ladrar. As nuvens cada vez mais cinzentas encobrem totalmente o luar. Impera o silêncio, apenas quebrado pelo estalar das folhas ao meu andar.