22h45m. Temperatura amena. Um luar em quarto crescente. O céu parcialmente nublado. O vento a soprar em altitude, conduzindo as nuvens a Sul, despindo e vestindo a lua de tons cinzentos. O cheiro da terra, da chuva que caiu. As folhas de Outono a estalar ao meu andar. Plátano. Folhas em tons castanhos, amarelos e vermelhos formando um manto e acolchoando o chão húmido e irregular que pisava. Os meus sapatos rasos pareciam pantufas a deslocarem-se em alcatifa. Cães que ladram, uns mais perto outros mais longe, como numa orquestra sinfónica. A locomotiva que passa no apeadeiro, ecoando no silêncio da noite. O carro que derrapa ao fazer aquela curva mais apertada onde num passado recente alguém já se despistara de mota. O chiar dos pneus no paralelo. No prédio em frente a luz projectada de dentro de meia dúzia de janelas indicia actividade. A esposa na cozinha ainda a lavar a louça do jantar, o filho adolescente no escritório a navegar na internet, a jovem solteira a vestir o pijama e a preparar a roupa para o dia seguinte, a avozinha a pôr a dentadura de molho na casa de banho, o marido a ler o jornal no sofá, a discussão acesa entre o casal de meia idade... Vidas diferentes, rituais semelhantes. Aos poucos as projecções vão desaparecendo e o prédio perde forma. O orvalho começa a cair baixando de repente a temperatura. Os cães param de ladrar. As nuvens cada vez mais cinzentas encobrem totalmente o luar. Impera o silêncio, apenas quebrado pelo estalar das folhas ao meu andar.Behind the bushes, after crossing the last frontier between the real and the utopic undiscovered world, get amazed with the insanity of someone lost in the wilderness...
Wednesday, October 24, 2007
Uma noite de Outono
22h45m. Temperatura amena. Um luar em quarto crescente. O céu parcialmente nublado. O vento a soprar em altitude, conduzindo as nuvens a Sul, despindo e vestindo a lua de tons cinzentos. O cheiro da terra, da chuva que caiu. As folhas de Outono a estalar ao meu andar. Plátano. Folhas em tons castanhos, amarelos e vermelhos formando um manto e acolchoando o chão húmido e irregular que pisava. Os meus sapatos rasos pareciam pantufas a deslocarem-se em alcatifa. Cães que ladram, uns mais perto outros mais longe, como numa orquestra sinfónica. A locomotiva que passa no apeadeiro, ecoando no silêncio da noite. O carro que derrapa ao fazer aquela curva mais apertada onde num passado recente alguém já se despistara de mota. O chiar dos pneus no paralelo. No prédio em frente a luz projectada de dentro de meia dúzia de janelas indicia actividade. A esposa na cozinha ainda a lavar a louça do jantar, o filho adolescente no escritório a navegar na internet, a jovem solteira a vestir o pijama e a preparar a roupa para o dia seguinte, a avozinha a pôr a dentadura de molho na casa de banho, o marido a ler o jornal no sofá, a discussão acesa entre o casal de meia idade... Vidas diferentes, rituais semelhantes. Aos poucos as projecções vão desaparecendo e o prédio perde forma. O orvalho começa a cair baixando de repente a temperatura. Os cães param de ladrar. As nuvens cada vez mais cinzentas encobrem totalmente o luar. Impera o silêncio, apenas quebrado pelo estalar das folhas ao meu andar.