Vaga de calor

Está calor. Suo desalmadamente. Escorrem-me gotas de suor costela abaixo. Descem de mansinho pelo rego da coluna, acumulam-se ao longo do caminho como os afluentes de um rio e só param já junto da foz, no outro rego. Que comichão desconfortável e irritante! Levanto-me para coçar e aliviar a tensão, mas o suor, como que por osmose, já se vislumbra no assento da cadeira.

Ai um banhinho que bem que sabia! Não eram precisos sais nem sabonetes Dove, quais paneleirices da era moderna, uma mangueirada de água corrida era tudo o que mais poderia desejar neste momento! Isso e uma loirinha bem fresquinha goela abaixo pois as outras são lourinhas e de tão frescas que são já não se contentariam comigo. É vê-las espanpanantes com o corpinho ao ar livre, calçãozinho da Zara e top provocante da Mango com o olhar atrevido escondido por trás daqueles óculos escuros da Gucci, modelo abelha, que são moda hoje em dia. Nessas lourinhas o suor não escorre da mesma maneira. Para além de estarem mais descapotáveis, para que o corpo não transpire tanto, sempre que uma gota começa a escorrer costela abaixo, há sempre um mancebo, qual escrava Isaura, logo pronto a limpar delicadamente para evitar que os afluentes desagúem na foz. Aproveitam a deixa e vão explanando a mãozinha, ora acima ora abaixo, para consolar.

Eu é que não me conformo! Esta vaga de calor é um desassossego. Todo o mundo a correr para a praia à procura do calor tórrido e dos raios ultra-violetas para o bronze, e eu a esconder-me na sombra pois o suor que me escorria pelo costado já se acumulava no rego!
Uma mangueirada, se faz favor...