No início pensava que era um terramoto pois vivemos em Lisboa num 4º andar de um edifício degradado com 6 pisos. Degradado é uma alcunha pois a construção do prédio data de 1947, e o elevador, de grade metálica, entrou já na pré-reforma aos 59 anos, tal e qual como o sortudo do meu cunhado que era já excedentário na repartição de finanças da nossa freguesia.
Os azulejos exteriores vão caíndo como os cabelos brancos da minha querida mãezinha, e ainda no outro dia abriram um sobrolho a um ceguinho que ousou acariciar as paredes do prédio com a sua bengala.
A canalização nunca foi substituída totalmente, vai sendo remendada sempre que há algum sinal de fuga de líquidos ou gases. Há dias que se conseguia viver melhor dentro de uma casa de banho pública do que dentro da nossa própria casa !A escadaria foi construída com madeiras exóticas e o caruncho concede-lhe um toque especial. Com a pré-reforma do elevador a escadaria passou a acumular funções: único acesso às habitações, única saída no caso de emergência, e para os inquilinos do 2º andar para cima, ginásio ao domicílio.
Mas voltemos ao terramoto...
Foram 2 ou 3 vezes num espaço de uma semana, mas eu deixei passar, a pensar na escala de Richter. Um grande ranger das escadas, as louças da cozinha a tilintarem, os canos a darem de si, mais uns azulejos a escorregarem para a via pública, uma das vezes até engoli uma placa com 2 dentes que me custou os olhos da cara.
Mas depois não vi qualquer referência ao acontecimento no noticiário das 20h, nem mesmo no da TVI, para o qual caírem uns tantos azulejos na via pública poderia ser já notícia de monta. E estranhei !
"- Afinal o que se terá passado ? Ando a ver muitos filmes e a ter alucinações, ou os comprimidos para as erecções têm efeitos secundários que eu desconhecia ?"
Ao 4º terramoto na mesma semana resolvi ganhar coragem e, em vez de me esconder debaixo da mesa da sala, saí de casa e comecei a descer as escadas. Quanto mais descia, mais forte se tornava a actividade sísmica. Um barulho ensurdecedor e um gingar anormal das escadas que mais pareciam as rolantes dos shoppings.
Até que, 2 pisos abaixo do nosso, dei de caras com a origem do terramoto !
Um bigode não muito farto, mas de pêlos espessos e espetados, uma morfologia descomunalmente ovalizada, peso a rondar a meia tonelada (nem que o elevador funcionasse !), os 2 caninos superiores bem salientes e abaixo do lábio inferior, e com umas barbatanas (não lhes podia chamar outra coisa) que em terra de pouco lhe deveriam servir, mas que porventura na água lhe dariam muito jeito.
O animal vira-se para mim e dispara: "-Que falta nos faz o elevador, não é vizinho ?"
Enchi-me de coragem e respondi em tom irónico: "-A senhora já experimentou alugar um espaço no Oceanário ? Dizem que servem peixe fresco todos os dias..."
2 comments:
hehehe... sei bem do que falas... o prédio onde vivo é de finais da década de 1940, tem elevadores desses... o chão é da mesma época... e até a entrada... nem tem microfone-altifalante presumindo ainda que existe um "porteiro" numa secretária. Atrás dele estava um curioso telefone de porteiro com um roda que era rodada até à posição da casa onde o visitante ia subir para pedir aprovação do morador... fascinante! mas esse telefone "desapareceu"... vendido pela senhoria a um qq antiquário.
Xiii...por um momento, pensei que te estavas a referir a mim, eu que sou tua vizinha...ufa...ainda bem que sou a vizinha do lado...eheheehehhe...muito bem, boa inspiração! Beijinhos
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