Thursday, February 08, 2007

Big trouble in little Portugal

Na recente viagem de José Sócrates (e da sua sempre extensa comitiva) à China, ficamos todos perplexos, mais uma vez, com as declarações do ministro da economia, Manuel Pinho. Segundo o próprio, existem 5 vantagens em investir em Portugal:


1) Segurança e estabilidade política

2) Bons portos e boas vias rodoviárias

3) Investimento na qualificação dos cidadãos

4) Relações privilegiadas no continente africano e Brasil

5) Custos salariais mais baixos do que a média da UE e baixa pressão para a sua subida em relação aos países do alargamento

Se em relação aos pontos 1), 2) e 4) me escuso a tecer qualquer comentário já em relação aos pontos 3) e 5) gostaria de meter a minha colherada...

Como é que por um lado investimos na qualificação dos nossos cidadãos e no tão badalado "choque tecnológico" e depois apresentamos como uma das vantagens de apostar em Portugal, os nossos baixos salários ?

Como é que apostamos na qualificação dos nossos cidadãos e continuamos a ter das taxas mais altas de analfabetismo, e dos níveis de escolaridade mais baixos da UE, sendo que uma grande parte dos fundos comunitários orientados para a formação não é utilizado correctamente ?

Queremos ser a China da Europa, com uma taxa de desenvolvimento muito grande à custa da exploração dos trabalhadores ? Baixos salários, exploração de mão-de-obra infantil, desrespeito pelos direitos humanos...

E existe uma baixa pressão para a subida dos salários ? As constantes greves dos trabalhadores de diferentes sectores de actividades e manifestações organizadas pelos sindicatos não são suficientemente incisivas ?

A Irlanda, com um nível salarial bem mais alto que em Portugal consegue ter uma das mais altas taxas de desenvolvimento da UE, conseguindo que as multinacionais se estabeleçam de uma forma mais definitiva no país. Isto porque, ao contrário do que acontece por aqui, essas empresas fixam não só a parte produtiva, como a parte de serviços e de R&D (pesquisa e desenvolvimento). Em Portugal as empresas vêm realmente atrás dos baixos salários, e dos incentivos fiscais que os nossos governos vão proporcionando, mas poucos são os que criam e mantêm departamentos de R&D. O que acontece é que nestes casos, mais cedo ou mais tarde as empresas acabam por se deslocalizar para a China, Índia ou para algum país de leste.

Francamente Sr. ministro Manuel Pinho ! As suas declarações só podem ter uma explicação, o Sr. ministro estava ainda a recuperar do jet-lag provocado pela viagem...

Se o Sr. ministro acredita realmente naquilo que disse, é melhor começar a pensar em emigrar pois com o seu elevado salário de ministro, não se consegue tornar competitivo em Portugal !!!

1 comment:

Unknown said...

Olá, aqui vão alguns comentários: É verdade que a atitude do ministro não é muito elegante, mas colocando-me no lugar dele não sei se não faria o mesmo. Tendo que apresentar vantagens de Portugal perante tanta concorrência altamente capacitada, todos os argumentos são válidos e a verdade é que Portugal ainda tem pouco mais que oferecer que salários baixos e pasmaceira (quer dizer, pouca capacidade reivindicativa). As chamadas lutas dos sindicatos e dos trabalhadores dão é vontade de rir, morno como tudo, sem convicção nem argumentos credíveis. Este povo continua anestesiado e inofensivo e essa é uma vantagem competitiva para quem se quiser aqui instalar. E quanto à qualificação dos recursos humanos nem é bom falar, a ignorância, o analfabetismo, o desprezo pelo saber são palpáveis em todos os recantos, para onde se quiser olhar. Por isso, o que é que vamos oferecer?, como é que vamos convencer os estrangeirinhos a apostar num país complicado, borocrático, com gente ignorante, com tiques de elitismo, xenofobia, que não deixa de ser uma grande aldeia de camponeses a andar de BMW's e Porshes? (Desculpem o tom, mas sou honesto com o que penso)