Saturday, May 31, 2008

Sunday bloody Sunday

Tudo fazia querer se tratar de mais um Domingo normal, igual a tantos outros Domingos de Primavera envergonhada.
O sol não se fazia sentir mas a chuva também não ameaçava, apesar de algumas nuvens dispersas num céu azulado.
Um óptimo dia para desentorpecer os músculos e descongestionar a tensão acumulada durante a semana, num passeio descontraído de BTT.
A um ritmo moderado, a que uma longa paragem desportiva assim obrigava, o percurso feito quase de olhos fechados decorria com toda a normalidade.
Eis que de repente, quando nada o fazia prever, um pequeno galho se atravessa sorrateiramente no meu caminho resolvendo de uma forma fortuita alterar todo o rumo dos acontecimentos. Infiltrando-se no eixo traseiro da minha máquina, provoca um curto-circuito que destroi o drop out (vulgo fusível mecânico de protecção ao desviador traseiro), transformando as minhas vigorosas pedaladas num movimento estupidamente inútil. A dois ou três kms de distância do regresso à civilização, pouco ou nada mais me restava do que dar boleia aquele objecto inértil de duas rodas a que até há poucos minutos atrás chamava de bicicleta.
Resignado, rapidamente me fiz ao caminho e pouco tempo depois regressava ao "acampamento avançado 1" e seguidamente ao "campo base", cerca de uma hora antes do que o habitual.
Chegando a casa acontece-me um segundo azar, este do tipo 2 em 1.
Começava a descarregar a tralha para dentro de casa: capacete, camel-back, bicicleta ou o que restava dela, etc quando se atravessa no meu caminho um duo de "evangelizadores" que depois de já terem tocado a pelo menos 15 campaínhas vizinhas se preparavam agora para me fazer uma lavagem cerebral. Eu que naquele momento precisava era mais de uma lavagem ao corpinho todo...
Nem ao 7º dia estes homens descansam para levarem a mensagem de Cristo, tipo cassete pirata riscada, a todos os lares desamparados. Seriam da religião em que só se pode "coisar" às 5ª feiras, ou da que se tem que contribuir com uma dízima todos os meses, ou a das correntes da saúde, do amor, do trabalho..., ou a dos milagres em directo, ou das que renegam a utilização do preservativo, ou das que investem milhões do bolso dos crentes em catedrais luxuosas para adorar um Deus que dizem ser humilde e despojado de abundâncias ?
Não cheguei a saber.

"- Bom dia jovem. Sei que deve estar com pressa, mas gostava de lhe falar sobre espiritualidade..."
"- Pois... Eu sou um pouco radical em relação a esse tema."
"- É ateu ?"
"- Sou sim."
"- Acredita na teoria do Big-Bang ?"
"- Exactamente. E na teoria da evolução das espécies."
"- Mas blá-blá-blá-blá-blá-blá"
"- Perde o seu tempo comigo. Eu não acredito na sua teoria."
"- Teoria ? Acha que é uma teoria ?"
"- É uma teoria como a minha. Cada um acredita na sua e não é você que me vai fazer mudar de opinião."
"- Mas blá-blá-blá-blá"

Com a conversa, que já me estava solenemente a irritar desde o seu início, distraí-me irreversivelmente e fechei a porta do carro com bastante violência, deixando lá dentro esquecida a ponta do meu dedo mindinho da mão esquerda.
Brutal ! A porta literalmente fechada e eu preso por uma unha que mais tarde se revelaria negra. Com a mão direita solta, a que milésimos de segundos antes atraiçoara a esquerda, milésimos de segundos depois a libertava de uma curta mas penosa passagem pela masmorra.

"- Ai. Aleijou-se ?"
"- Possa. Trilhei o dedo." - (fazendo-me de forte e controlando a dor ainda a quente)
"- Fez sangue e tudo..."
"- Isto não é nada de especial..." - (fonix, desapareçam que eu preciso de gritar...)
"- A sua bicicleta está estragada..."
"- Foi o drop-out" - (desamparem-me a loja que eu quero gritaaaaarrrrrr...)
"- Nas bicicletas antigas não havia desses problemas..."
"- Pois. Bom dia. Adeus" - (será que é desta que vou poder gritaaarrrr ?!?!)
"- Bom dia. E desculpe o incómodo" - (desculpe ? é preciso ter uma lata !!!)

Finalmente, já do lado de dentro do portão da casa, sai o tal contido grito de dor e revolta: Aiiiiiiiiiii !!!!! O meu dedo !!!!

7 comments:

Anonymous said...

Então! E a porta do carro?
Ficou suja?!!!!
Xiiiiiiiiiiiii........
Beijinho da "enfermeirinha" do INEM

Anonymous said...

Esqueceste-te de dizer q o azar já tinha começado no dia anterior, onde a raquete, novinha em folha, só mandava as bolas para fora do campo !!!

Heitor Araujo said...

Sérgio,

Aqui uns camaradas afirmam peremptoriamente que é impossível tanta fatalidade se dever apenas a azar. Perguntam-se mesmo se não haverá alguma dose de azelhice pelo meio, mas podes ficar descansado, eu nunca alinharei em tais teorias...


Cumprimentos,

Heitor

last frontier said...

Quanto às bolas irem para fora, deves ter jogado com mais alguém depois de mim, porque durante o nosso jogo só vi foram esquerdas tuas irem para a rede...

Quanto à possivel azelhice levantada por alguns camaradas, eles que venham que eu dou-lhes a azelhice com a porta do meu carro...

Anonymous said...

tudo nos acontece na vida a partir de uma certa idade:) resumidadente só te posso dizer... dedica-te á apanha de polvos á noitinha

Anonymous said...

Só consigo dizer...Foi castigo! eh eh...desculpe. Espero que esteja melhor e a bike arranjada.

Anonymous said...

só agora reparei que o post faz 1 ano. De certeza que está melhor e outra bike já deve ter. De qualquer forma, axei piada e por isso deixei um bitaite (com este faz 2). eh eh